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Educar a alma: alfabetização psíquica


Uma educação que queira facilitar a arte de conviver terá de se lançar na revolucionária proposta de uma alfabetização psíquica.
Trata-se da tarefa ousada e imprescindível de colocar a alma nos bancos escolares, desde o pré-primário até as universidades, facilitando que o aprendiz desenvolva a inteligência psíquica. Sobretudo com o desenvolvimento das funções básicas, pesquisadas por Jung: pensamento, sentimento, sensação e intuição.
A educação convencional apenas tem se ocupado, de forma fragmentada, com o pensamento e a sensação. Incluir em nossos currículos o tema do sentimento e da intuição, harmonizando-as e integrando-as com as demais, é uma tarefa de grande alcance e pertinência, visando o resgate de uma consciência mais vasta, de integridade e de inteireza.
Educar a alma é desenvolver, também, a inteligência emocional.
Sabemos que há emoções naturais, que representam verdadeiros mecanismos homeostáticos, que ajudam o organismo na sua sobrevivência individual e coletiva. Necessitamos de uma pedagogia do afeto, que facilite o desenvolvimento de vínculos afetivos. A alegria é uma lição fundamental, na escola da existência. A tristeza é uma estratégia saudável, no contato com as perdas. Aprender a lidar com a raiva é imprescindível, na relação com o mundo. E o medo é outra lição que precisa ser trilhada, no confronto com o desconhecido.
Quando o aprendiz não tem acesso ou reprime a expressão emocional das emoções autênticas, um disfuncional repertório emotivo substitutivo é adquirido. Na análise transacional, conhecemos bem o que são denominados "disfarces", emoções distorcidas que encobrem as naturais, que estão interditadas. Os mais típicos disfarces são a ansiedade, depressão, fobia, inadequação, culpa, vergonha, ressentimento, ódio, inveja, ciúme, vingança, triunfo maligno, entre outros.
Por outro lado, é necessário o desenvolvimento da inteligência onírica. Este é um capítulo muito importante na nova educação.
Sonhar constitui um nível de realidade que tem a sua lógica própria, complementar à da vigília. Estudar o Livro dos Sonhos, registrando, cuidando e aprendendo a aprender com os sonhos nossos de cada noite, é uma tarefa básica para o autodesenvolvimento.
No Ocidente, o sonho tem sido objeto de pesquisa científica há mais de um século, a partir da escuta analítica e psicoterápica até os complexos laboratórios. Sabemos que o sonho exerce uma função compensatória, corrigindo a unilateralidade da consciência de vigília.
Equivalente aos pensamentos, os sonhos representam valiosas amostragens existenciais, reportagens do processo de individuação. Apontam direções criativas, soluções inesperadas, advertências, também vinculando-nos ao inconsciente coletivo. Às vezes, são verdadeiras parábolas, plenas de múltiplos sentidos. Aprender a cuidar dos sonhos e a honrá-los no cotidiano, ampliando a arte interpretativa, faz parte de um existir lúcido, com qualidade psíquica.
Já há escolas, como a Casa do Sol, da Unipaz-Brasília, onde as crianças iniciam a jornada diária partilhando os seus sonhos, como em certas culturas tribais, onde a alma é valorizada e, também, educada.
Os antigos Terapeutas da Alexandria estudavam as escrituras também para se qualificarem na arte de interpretar os sonhos. E pesquisavam-nos, para se aperfeiçoarem na arte de compreender os textos sagrados, as crises e as doenças.
Uma tarefa bastante nobre de uma educação integral é a de facilitar a abertura de visão e de escuta para o exercício de uma inteligência hermenêutica, que habilite o educando a interpretar e compreender os sonhos, pesadelos, tombos, encontros e desencontros da jornada existencial.
Finalmente, uma alfabetização psíquica solicita, também, o desenvolvimento da inteligência relacional.
Carl Rogers afirmava que o grupo foi a maior descoberta do século XX. Neste século, foram criadas e aperfeiçoadas técnicas e dinâmicas de grupo, variadas e sofisticadas. Por que não empregá-las no cotidiano escolar? Como aprender a conviver sem o exercício do envolvimento grupal e comunitário, com uma facilitação competente, de forma a se adquirir competências atitudinais diante dos conflitos, dificuldades e impasses do coexistir?
Uma educação profilática é a que facilita a aquisição de responsabilidade, ou seja, habilidade em responder. Assim, a educação exerceria a sua função preventiva, diante de tantas mazelas, a nível individual, social e ambiental, derivadas da ignorância psíquica, do desconhecimento dos recursos da alma.
Entretanto, se o nosso pressuposto for meramente psicossomático, estaria totalmente inviabilizada a pedagogia iniciática. Para aprender a conviver, necessitamos do resgate da consciência psíquica. 

Roberto Crema

Psicólogo e antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas, analista transacional didata, criador do enfoque da Síntese Transacional. Mentor da Formação Holística de Base da UNIPAZ. Diretor da Holos Brasil. Educador e autor de vários livros, entre os quais "Análise Transacional Centrada na Pessoa", "Introdução à visão holística" e "Saúde e plenitude". Vice-reitor da UNIPAZ.

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