Seguidores


Assinantes

Seguidores

Artigos

Comentários

Estatísticas do Blog

A beleza


Olhar é uma das coisas mais difíceis da vida. Escutar também.
Se nossos olhos estão obcecados pelas nossas inquietações, não podemos ver a beleza do pôr-do-sol.
A maioria de nós perdeu o contato com a natureza. Estamos nos tornando cada vez mais urbanos, vivendo em apartamentos apertados e, tendo muito pouco espaço mesmo para olhar o céu da tarde ou da manhã. Por conseguinte, estamos perdendo o contato com a beleza.
Já notastes quão poucos dentre nós olham o nascer ou o pôr-do-sol, ou o luar ou os reflexos da luz na água?
Tendo perdido o contato com a natureza, tendemos naturalmente a desenvolver as aptidões intelectuais e deixamos de observar a beleza do movimento de uma ave a voar, a beleza de cada movimento das nuvens, ou a beleza manifestada no rosto de outra pessoa.
Conta-se uma história acerca de um instrutor religioso que todas as manhãs falava aos seus discípulos. Uma certa manhã, subiu ao palanque e, justamente quando ia começar a falar, um passarinho pousou no peitoril de uma janela e começou a cantar, a cantar com toda a alma. Depois calou-se e foi-se a voar. Disse então o instrutor: "Está terminado o sermão desta manhã".
Uma de nossas maiores dificuldades é vermos, por nós mesmos, com toda a clareza, não só as coisas exteriores, mas também a vida interior. Quando dizemos que vemos uma árvore ou uma flor ou uma pessoa, vemo-la realmente?
Ou vemos meramente a imagem que a palavra criou? Isto é, quando olhamos uma árvore ou uma nuvem, numa tarde luminosa, nós a vemos realmente, não só com nossos olhos, porém, totalmente, completamente?
Já experimentastes alguma vez olhar uma coisa objetiva, uma árvore, por exemplo, sem nenhuma das associações, nenhum dos conhecimentos que a respeito dela adquiristes, sem nenhum preconceito, nenhum juízo, nenhuma palavra a constituir uma cortina entre você e a árvore, impedindo-te de a ver tal qual é realmente?
Experimente para ver o que realmente acontece quando observas a árvore com todo o teu ser, com a totalidade da tua energia. Nessa intensidade, verás que não há observador nenhum; só há atenção. Só quando há desatenção existe "observador e coisa observada". Quando estás olhando com atenção completa, não há espaço para nenhum conceito, fórmula, lembrança.
Só a mente que olha as árvores ou as estrêlas com total abandono de si própria, só essa mente sabe o que é a beleza, e quando estamos vendo, achamo-nos num estado de amor. Em geral conhecemos a beleza pela comparação ou através das criações do homem, o que significa que atribuímos beleza a um certo objeto.
Vejo aquilo que considero um belo edifício e aprecio essa beleza por causa de meu conhecimento de arquitetura e pela comparação com outros edifícios que vi. Mas, agora, pergunto a mim mesmo: "Existe beleza sem objeto?".
Quando há um observador, ou seja o censor, o experimentador, o pensador, não há beleza, porque a beleza é então algo exterior, algo que o observador olha e julga; mas, quando não há observador - e isto requer muita meditação, investigação - há então a beleza sem objeto.
A beleza reside no total abandono do observador e da coisa observada, e só pode haver auto-abandono quando há austeridade total, não a austeridade do sacerdote, com sua rudeza, suas sanções, regras e obediência; não a austeridade no vestir, nas idéias, no alimentar-se, no comportamento - porém, a austeridade que consiste em ser totalmente simples, que é a humildade completa - não há então realização, não há escada para galgar, só há o primeiro degrau, e o primitivo degrau é o degrau eterno.
Suponhamos, por exemplo, que estejas passeando a sós ou com alguém, e ficastes calado. Estás rodeado pela natureza e não se ouve o latido de um cão, o barulho de um carro que passa, nem mesmo o ruflar das asas de um pássaro.
Estás em completo silêncio, e silenciosa também está a natureza circundante. Neste estado de silêncio existente tanto no observador como na coisa observada - quando o observador não está a traduzir em pensamento o que está vendo - nesse silêncio há uma diferente qualidade de beleza.
Não existe nem a natureza nem o observador.
O que existe é um estado em que a mente está total e completamente só; só - não isolada - só em sua quietude, e essa quietude é beleza.

Autoria desconhecida

Não estamos violando nenhum direito autoral ao publicar esta reflexão, ao contrário, procuramos o(a) autor(a) para lhe dar os devidos créditos

0 comentários:

Postar um comentário